Fiquei
18 dias internado (do dia 8 a 25 de maio de 2025) sendo 7 dias no ENCOR, em
Nova Iguaçu e 11 dias no Hospital da Casa (um dos anexos do Hospital de
Portugal) situado na Ilha do Governador. Em fevereiro de 2024 também fiquei 8
dias internado no Prontonil com diagnóstico de Dengue e/ou Covid, esse último não
confirmado. Meu propósito neste conto, além de relatar os procedimentos
recebidos nesta recente internação, descrever a rotina diária desses três
hospitais de referência e o trabalho das equipes médicas, enfermagem e demais equipes
auxiliares e administrativas. Observei melhor essas rotinas nos 10 dias que
fiquei no Hospital da Casa para onde fui transferido já estabilizado, somente para
aguardar o segundo procedimento cirúrgico programado. No ENCOR, fui internado na madrugada do dia 8
no CTI em estado grave e 10 minutos após a internação, uma parada cardíaca de
três minutos e, à noite do mesmo dia, um bronco espasmo. Dois milagres
porque faleci e ressuscitei sem ajuda do desfibrilador. Quanto ao bronco espasmo, o risco de morte foi
também iminente mas, com a ajuda de máscaras de oxigênio com substâncias
diversas e com médicos e enfermagem eficientes salvaram minha
vida. No dia seguinte, passei por vários procedimentos: colocação de sonda, coleta
de sangue, ecocardiograma, RX de tórax e tomografia entre outros. Após análise,
esses exames determinaram a necessidade de um cateterismo feito dois dias
depois. Não houve necessidade de colocar nenhum stent pois não foi
constatado nenhum entupimento em qualquer artéria. A boa notícia me deixou
animado. Paralelamente, uma infecção urinária e um pequeno problema pulmonar
ainda eram motivos de preocupação para os médicos. Soro, antibióticos e dieta
pastosa em toda essa fase. Um dia após o cateterismo, um “holter” (eletrocardiograma
de longa duração,24 horas) foi colocado no meu peito para posterior análise e
resolução de um novo procedimento cirúrgico. A colocação de um CDI ou de
um marca-passo no meu peito ou um procedimento cirúrgico mais demorado
chamado ablação foram motivo de análises e estudos de todos os médicos. Finalmente
a ablação foi o consenso. O ENCOR não realiza esse tipo de cirurgia e tive que
ser removido dois dias depois, em ambulância, para o Hospital da Casa. A demora
foi ocasionada pela burocracia do plano de Saúde, vaga no CTI do hospital
recomendado e a espera de ambulância disponível para o meu transporte.
Levando
os laudos do ENCOR, a internação foi na madrugada do dia 15 e, às 10 horas do
mesmo dia, após a coleta de sangue pela enfermagem, um especialista em
ecocardiograma me fez um exame bem demorado.
Foi
o primeiro dos vários exames já realizados no ENCOR e que estavam sendo
repetidos, inclusive um RX toráxico. O único exame não repetido foi a
tomografia, também do tórax. Dois dias depois um dispositivo Holter foi
colocado em meu peito e removido 24 horas depois. A fisioterapia era diária com
exercícios respiratórios e caminhadas pelos corredores. A dieta foi liberada.
Assim fiquei mais três dias esperando o resultado do Holter e a definição
dos médicos pelo procedimento mais adequado. Finalmente, decidiram pela “ablação”,
um procedimento cirúrgico feito através de cateter e minimamente invasivo para
tratar arritmias cardíacas. Destrói ou interrompe as células do coração que
estão causando a arritmia aplicando energia que pode ser de radiofrequência
(que aquece o tecido) ou crio energia (que congela o tecido), restaurando assim
o ritmo normal do coração. A cirurgia, com anestesia geral, demorou pouco mais
de uma hora e bem sucedida. Fiquei mais dois dias no CTI e depois fui
transferido para o quarto onde fiquei pouco mais de 24 horas quando finalmente recebi
alta dia 25 às 20 horas. Hoje, passados 15 dias, estou me sentindo plenamente restabelecido.
Mas foi um grande susto.
Acho
que os plantões médicos em CTI são feitos com base em escalas de trabalho de
12x36. Trabalham 12 horas e descansam 36. Em alguns setores, poderão variar e
serem de 24x48. Existem também plantões específicos. Como exemplos, o de
administradores, os que trabalham em segurança ou limpeza e alguns médicos
especialistas em diversas situações (cirurgiões, anestesistas e
instrumentadores(as). A troca é feita
pontualmente às 7 e ás 19 horas.
No
início de cada plantão, com toda a equipe presente, é nomeada uma enfermeira
para coordenar os trabalhos. Não consegui saber quantas trabalham no setor. O
número de leitos que um CTI possui varia com o espaço físico a que foi
destinado. Tenho certeza que no Hospital da Casa são mais de 20. Sua primeira
tarefa é saber quais leitos estão ocupados, o estado de saúde e o estágio de
tratamento de cada paciente e escrever em um quadro os plantonistas que ficarão
encarregadas de atendê-los, geralmente dois para cada três ou quatro pacientes.
Sem horário determinado, um médico faz uma ou duas visitas a cada paciente
diariamente.
Resumindo
a rotina de um CTI, todos os pacientes são acordados às 5 horas da matina para
coletar sangue. Meia hora depois, mesmo monitorados, a enfermagem verifica os
sinais vitais de cada paciente. Logo após chega o café da manhã para os que não
estão em dieta zero. Para esses últimos, os soros são trocados ou verificados. A
troca de fraldas e o recolhimento da urina vem logo após.
Em
seguida, a nutricionista comparece para informar o cardápio disponível para o
almoço, jantar e lanches. Não adianta você querer descansar mais um pouco porque
o banho vem logo a seguir. Quem pode levantar é levado para o banheiro e quem
está acamado esta higiene é feita no próprio leito. Aproveitando esse
procedimento, lençóis e fronhas também são trocados. Aí, você pensa: agora vou
poder descansar um pouco. Que nada. Chega a fisioterapeuta para ajudá-lo a
fazer exercícios diários, sentado na beira da cama e depois, com sua ajuda,
caminhadas nos próprios corredores do hospital. Os corredores possuem barras que
possibilitam uma série de exercícios como agachamento e outros para os membros
inferiores. Tudo isso é realizado antes do almoço, pontualmente servido às
11.30. Nos intervalos, dependendo de cada paciente, os remédios prescritos para
cada paciente são fornecidos pela enfermagem, o monitoramento, mesmo automático
é anotado no prontuário e também, o vai e vem dos carrinhos da limpeza para
higienizar o ambiente. Salvo alguma intercorrência, seja a piora do quadro e/ou
a saída ou entrada de novos pacientes, um pequeno cochilo poderá ser feito. Mas
não por muito tempo. Uma pouco antes do horário das visitas, das 15 às 16 hs.,
é um corre-corre no plantão.
Nova
troca de fraldas, higienização do ambiente e arrumação do que esteja fora dos
seus devidos lugares e tudo fiscalizado
pela enfermeira chefe. Chega o lanche da tarde, geralmente um suco e um pão com
manteiga e/ou requeijão. O horário da visita é cumprido religiosamente e só
podem entrar duas visitas, uma de cada vez. Às 17.30hs. chega o jantar. Em cada
refeição, a enfermagem ajeita a cama para possibilitar uma posição confortável ao
paciente. A noite chega e a calma, salvo por algum motivo, finalmente existe.
Mas ainda tem uma nova troca de fraldas, remédios para serem administrados e o
lanche das 21 horas, geralmente igual ao da tarde a não ser que o paciente
tenha pedido outra coisa. A mudança de posições na cama é sempre solicitada
pela enfermagem para evitar escaras. Procurei dormir de lado e as alternava
quando acordava de madrugada. 5hs. da manhã seguinte. Vai começar tudo de novo.
Coleta de...
Em
relação a todas as equipes médicas de cada plantão, enfermagem, auxiliares,
fisioterapeutas, assistentes sociais, maqueiros e demais funcionários, tanto administrativos
como os de limpeza, não tenho adjetivos nem nota para qualificá-los. Todos
dando o seu máximo de desempenho, atenção e principalmente carinho pois estão
cuidando de doentes, às vezes em fase terminal de sua existência.
Em
suma, gostam do que fazem. Ao iniciarem um plantão esquecem suas vidas
particulares e os problemas que, certamente todo ser humano tem.
Esta
rotina é a seguida salvo intercorrências. Alta no CTI e/ou remoção para os
quartos, entrada ou saída de novos pacientes ou o pior que pode acontecer em
qualquer horário: o agravamento do quadro de saúde de paciente internado no
setor. As cortinas que separam cada leito se fecham e o atendimento é feito,
além de várias enfermeiras, um ou dois médicos.
Finalmente,
encerro essa crônica/conto sobre hospital, um tema talvez não abordado por
nenhum escritor e que jamais é observado pelos que o frequentam. E isso é óbvio
porque ninguém quer ser internado. Ainda não sei porque tive essa ideia, talvez
por ser muito observador em tudo que penso, passo, posso ver ou sentir. Só deixei
amigos, tanto médicos como enfermeiras que sempre me enviam mensagens acerca de
minha recuperação. A todos, sem distinção, apenas mais duas palavras: muito
obrigado.

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