Tragédias podem ser gêneros literários ou
tipos de peças de teatro ou de óperas, geralmente dramáticas, com finalidade de
excitar o terror ou a piedade dos expectadores. São baseadas no percurso e no
destino dos protagonistas ou heróis que terminam, quase sempre envolvidos em
acontecimentos funestos. São tragédias fictícias. Outros tipos de tragédias são
as ocasionadas por diversos fatores, ambientais ou acidentais, atingindo e
ceifando a vida de alguns ou milhares de seres vivos. São exemplos: acidentes aéreos
ou terrestres, terremotos, tsunamis, epidemias, incêndios florestais,
rompimento de barragens em mineradoras e inundações entre outras. As tragédias
que vou relatar aconteceram na comunidade onde morei denominada Catrambí, localizada
na Tijuca. Aconteceram quando eu tinha, aproximadamente, entre 12 e 14 anos.
A primeira delas foi o choque de um
avião de pequeno porte com uma montanha bem próxima da comunidade. Chuva e má visibilidade
por um denso nevoeiro foram as causas possíveis do acidente porque a região não
era rota de aviões. Pela primeira vez a comunidade foi notícia nos jornais da
época. O acesso de bombeiros, ambulâncias e repórteres foram feitos pelo único
caminho possível, a rua onde eu morava. Foram vários dias de intenso movimento.
Piloto e copiloto não sobreviveram ao choque do avião seguido de explosão. Ainda
bem que ninguém da comunidade se feriu.
A segunda tragédia, que até hoje guardo
na memória, foi fatal para duas crianças. Foram esmagadas por uma imensa pedra pesando
dezenas de toneladas. Situada em um barranco e próxima de um rio onde crianças sempre
brincavam ou tomavam banho. A parte de baixo da pedra servia como esconderijo e
local para jogos, conversas e brincadeiras de crianças da região. Após semanas
de chuva intensa, o sol voltou a brilhar e isso animou as crianças voltarem a
se encontrar no sinistro local. O solo encharcado causou um deslizamento do
barranco e da pedra em direção ao rio. As duas crianças estavam embaixo da
pedra e foram esmagadas. Milagrosamente, muitas outras conseguiram escapar.
A terceira tragédia, pra mim a mais
dolorosa, aconteceu na primeira das três casas que meu pai construiu no mesmo
terreno. A casa da frente estava alugada para uma senhora chamada Amélia e seu
casal de filhos, Daniberto, na época com 15 e Léa com treze anos. Uma linda
menina moça, loira de olhos azuis. Nós já estávamos nos paquerando...Pareciam
descendentes de alemães por causa do sobrenome, Bachmayer. Era uma casa com
somente um quarto, sala, cozinha e banheiro. A cozinha dava para uma área que a
separava da segunda casa onde eu morava. Sendo antiga, seu assoalho era com tacos
de madeira que sempre necessitavam de cera de carnaúba e escovão para sua
conservação e brilho. Na época, embora perigoso, era uma prática esquentar a
cera para facilitar esfregá-la no assoalho. Quem fazia isso era Daniberto. Em
uma panela velha, retirava uma quantidade de cera de sua embalagem original e a
esquentava no fogão a gás. A tragédia aconteceu quando, em um determinado dia,
ao fazer esse procedimento ele se distraiu e deixou a cera ferver. Com isso, o
fogo subiu para a panela. Nervoso, pegou um pano de prato, pegou a panela e a
jogou em direção a área. Sua irmã tinha ido estender umas roupas no varal e estava
entrando na cozinha exatamente na hora em que o irmão estava arremessando a
panela com a cera ardendo em fogo. Não
preciso contar mais nada. O fogo tomou conta de suas vestes e depois do seu
corpo. Com queimaduras de terceiro grau foi internada, lutou contra a morte durante
15 dias mas não resistiu. Eu não estava em casa. Tinha saído com minha madrasta
para uma consulta médica. Daniberto, com queimaduras somente
nas mãos, se recuperou. Imaginem o sofrimento da mãe e do irmão, principalmente
psicológicos, após esta tragédia...

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