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Cartas à família

 


AO IRMÃO DARCY NO DIA QUE COMEMOROU OS SEUS 85 ANOS:

 Prezado mano Darcy:

 Parabéns meu irmão por comemorar mais um níver

São passados 85 anos desde que você chorou pela primeira vez

Quando nasceu. O choro da vida

Mais um filho, o quinto, de Francelino e Ermelinda

Infelizmente, não estão mais entre nós para festejar esse momento

Aliás, da Silva somente nós dois. Os outros quatro também se foram

Agradeço a Deus ainda estar vivendo para poder te abraçar

E nesta comemoração, junto com alguns dos seus inúmeros amigos

Te desejar tudo de bom. Muita saúde e paz

Ao lado da Terezinha, do Fábio, dos netos e dos amigos

Que Deus o permita realizar mais alguns sonhos

Além dos muitos que conseguiu realizar

Esta casa é o exemplo de um sonho realizado. Em cada detalhe

Cada um tem sua história.

Sua história é linda, meu irmão. Você a construiu

Com tenacidade, persistência, perseverança

Conseguiu vencer todas as dificuldades

Que não foram poucas.  Sabemos bem disso...

Pra mim, você é um herói. Me orgulho de ser seu irmão

Doravante, viaje, curta cada momento, cada dia, cada mês

E todos os anos que, tenho certeza, o Senhor ainda o concederá.

Um afetuoso abraço do seu irmão caçula.

18/08/2018

 


CARTA AO MEU IRMÃO DARCY AO ME APOSENTAR NO CONSULTÓRIO:

Meu prezado mano Darcy:

 Senti a necessidade de escrever esta carta para você. E o faço agora por dois motivos especiais: o primeiro por sentimento, o segundo por agradecimento.

Sentimento por todos esses anos de convivência profissional, irmãos, colegas e sócios que fomos desde que nos graduamos em Odontologia nos idos de 1958. Não me esqueço do dia 31 de outubro de 1959, data da assinatura do primeiro contrato de aluguel da sala onde instalamos nosso primeiro consultório.

Não me esqueço também dos primeiros anos de clínica onde nossa primeira preocupação era ter, no fim de cada mês, dinheiro para pagar o aluguel. Quantas vezes precisamos do nosso querido pai para fazer face às nossas despesas...

Mas o seu signo é Leão (de luta) e o meu, Sagitário (de perseverança). Fomos vencendo pouco a pouco as dificuldades, cada um ao seu modo. Com você na Prefeitura e eu no Exército, conseguimos a estabilidade. O mar, de agitado ficou calmo e as sementes que plantamos germinaram...

Mas a família é o pilar do sucesso de cada indivíduo... Você foi mais feliz por ter uma mulher que sempre esteve e está ao seu lado e, de diversas maneiras, o tem ajudado nos bons e nos maus momentos. Eu, você sabe, embora “certinho”, tive vários ciclos em minha vida familiar. Com obrigações financeiras, ausentei-me em parte do consultório e, assim, deixei de aguar as sementes para o sucesso profissional.

Infelizmente, durante muitos anos, meus dias foram dedicados ao serviço público que me dava segurança financeira para pagar as minhas pensões...

Mas, seu irmão venceu. E, paradoxalmente, a especialidade que abracei foi cursada no turbilhão do primeiro divórcio. E o convite para ser professor na PUC, na tempestade do segundo divórcio...

Obrigado meu irmão por ser meu companheiro na faculdade, no consultório, nas dificuldades, nas minhas alegrias e tristezas.

Obrigado pelo estímulo e por seus elogios vendo os resultados dos tratamentos ortodônticos por mim realizados.  Obrigado pelo “agito”, incrementos e obras no consultório. Não concordei com algumas, principalmente a mais recente porque atravessava no momento, sem ninguém ao meu lado, um deserto de desilusões.

Agora, o mais importante: por que estou abandonando o barco, que juntos navegamos por não sei quantos oceanos?  Sei que não entende, sei que sentirá minha falta no consultório, mas, cada ser humano sabe a hora de parar. E, afinal de contas, vou me dedicar integralmente, por mais alguns anos, ao ensino que sempre foi minha meta principal na profissão.

Ainda, está na hora do seu irmão viajar, conhecer novos povos e culturas, enfim, gozar a vida, depois dos 77 completados... Você já faz isso a muito tempo. Eu só poderei fazer isso agora. Esta é mais uma razão, talvez a principal, para diminuir meu trabalho e os encargos dele decorrentes.

Desculpe-me por não concordar com você em alguns momentos. Um projeto, um destino podem ser conseguidos de várias maneiras, por vários caminhos e o muito importante: na hora certa.

Por último, um conselho:  cuide bem de sua saúde daqui pra frente. Não ultrapasse as 50 milhas, navegue sempre pelo litoral porque será mais fácil atracar em terra firme.

Não existe sonho impossível. Escrevo isso porque você já conseguiu tudo o que queria na vida. O sonho de ter uma linda casa, com degraus separando ambientes...  Degraus no banheiro...Tudo se tornou realidade.  Eu o admiro muito. Você é um vencedor.

Quanto a mim, mesmo com as limitações que a vida me reservou, não posso me queixar. Sem reservas, mas estabilizado.

Um beijo e um grande abraço meu irmão. Não se preocupe comigo. Estou bem, com saúde e o mais importante: agora, com alguém ao meu lado.

Quer me dar um presente simbolizando minha saída do consultório? Grave em um CD, músicas cantadas por você, principalmente a Ave Maria e Eu creio em ti. Sempre me emociono quando as escuto. Se você não fosse dentista, seria um grande tenor.

Deus o abençoe e o conserve. Um grande abraço meu irmão, um Feliz Natal e um ótimo 2013, extensivos à Terezinha e ao Fabio.

Muita PAZ

Rio, 18 de dezembro de 2012


CARTA ABERTA À MINHA FAMÍLIA:

     Aos 88 anos, senti a necessidade de falar escrevendo pra todos vocês. E por que? Por dois motivos. O primeiro porque, ao longo de todos esses anos, a vida nos separou por diversos motivos. Meus quatro irmãos mais velhos faleceram precocemente e, das raízes Francelino, Ermelinda, apenas meu irmão Darcy e eu ainda estão vivos.

O segundo motivo e o mais importante desta carta: porque, pela primeira vez na vida, acometido de “dengue”, fiquei internado seis dias em um Hospital de referência em Nova Iguaçu. Quase sucumbi. Lúcido, mas, em um leito de CTI, algo me fazia acreditar que eu ainda não deixaria este mundo, mas, que estava na hora de “abrir os olhos” e me convencer que o tempo passa e que não existe nada para revertê-lo.

Até então, EU NÃO VI O TEMPO PASSAR. Tive lado positivo e negativo com esta filosofia, “deixa a vida me levar”.  No lado positivo, concretizei vários sonhos sendo o principal ser professor de Ortodontia em uma Universidade aos 67 anos e, agora, aos 88 anos, além de seresteiro, fazer parte e ter amigos poetas que lideram a cultura em Nova Iguaçu.

Agora, o lado negativo e peço perdão a eles publicamente. Com exceção do meu irmão Darcy e dos meus três filhos, o restante da família, entre eles vinte sobrinhos e sobrinhas sobrinhos netos e até, talvez, bisnetos.  Alguns grandes amigos ficaram, de alguma forma, sem meus contatos embora possua seus whatsapps ou telefones.

Claro. Entendo que não criamos filhos e, depois, suas famílias para nós e sim para enfrentar os desafios que o mundo moderno impõe. Que cada um segue sua vida e tem seus afazeres.

Mas, depois dos seis dias que passei internado, “não vendo o sol nascer, não escutando o canto matinal dos pássaros, não podendo ver o ocaso do sol e o brilho das estrelas”, ficou-me a lição do óbvio:  que o apoio de uma mulher, da família e dos amigos mais chegados estão em primeiro lugar na vida de qualquer ser e desempenham um papel fundamental no seu progresso profissional e em sua recuperação e autoestima quando doente. Recebi, no hospital, a visita de quatro amigos e, também, dezenas de telefonemas, todos preocupados comigo. Isso me fez muito bem.  E mais ainda.  Doravante, aceito que “ser idoso passa a fazer parte da minha vida” e cada dia tem que ser por mim bem vivido e comemorado.

Tenho que falar escrevendo, primeiro do meu irmão Darcy, 90 anos, cego e, por isso 24 horas acompanhado. É o exemplo de um herói com uma história linda de vida. Sua perseverança para realizar seus sonhos, o de ter uma casa com todos os detalhes por ele imaginado. Me lembro que afirmava: “cada obturação que faço são mais alguns tijolos para construir minha casa”. E um detalhe: se não estivesse cego ainda estaria trabalhando. A esposa, cunhada Terezinha, faleceu de Covid a dois anos. Uma história de amor linda.  Chegaram a comemorar “bodas de ouro” em uma grande cerimônia. Meu sobrinho Fábio, fruto da união, mora em São Paulo mas, vem rotineiramente ao Rio e sua filha, minha sobrinha neta Luiza, já está cursando medicina. Tenho contato com todos eles, geralmente no Natal, agora no seu novo apartamento.

Infelizmente, não tenho netos. Meus filhos, Ricardo e Álvaro do primeiro casamento e Niltinho, do segundo casamento, são bem unidos como irmãos, mas estamos sempre afastados pela distância. Ricardo no momento está em Campo Grande e Niltinho nos Estados Unidos onde conquistou “um lugar ao sol”. Álvaro mora em Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro.  Sempre que possível nos reunimos no Dia dos Pais. Eles, sabendo que aparentemente eu estava bem em todos os sentidos, conversavam comigo por e-mail, telefone ou WhatsApp.  Não poderiam imaginar que, mesmo com saúde, enfrentava outro desgaste conjugal, o terceiro e, praticamente estava morando sozinho a cinco anos. E por que eu não compartilhei isso com a minha família e meus amigos? Aqui, eu confesso: porque a minha filosofia de vida e o meu “ego” não me permitiam. Sem ver o tempo passar, achava que, a qualquer momento, iria ser feliz e ter uma família, aliás o que sempre tive como objetivo de vida.

E CONSEGUI. Estou em um quarto relacionamento, acredito definitivo, com uma mulher que me entende e atende em todos os sentidos pois enfrentamos preconceitos, mas compartilhamos, choramos e rimos juntos. Me acompanhou e sofreu muito nos seis dias em que estive internado.

Juliana “caiu do céu” no meu colo e abraçou minha filosofia de vida, meus sentimentos, meus pensamentos e estamos juntos “para o que der e vier”. Espero que assim seja “para todo o sempre”.

Encerro esta carta. Repito que senti necessidade de escreve-la e a escrevi do meu jeito, do meu melhor jeito.

O último parágrafo reservo para agradecer a Deus o milagre: o de me deixar viver um pouco mais para que eu realize mais alguns sonhos...

Nilton

Nova Iguaçu, março 2024




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Enquanto isso na comunidade seresteira de Conservatória:

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